Não vamos sair de uma ditadura para entrar em outra

by - junho 05, 2018

Imagem: freepik.com

A minha história com o meu cabelo é bem antiga. Posso dizer que vivi momentos de altos e baixos com ele (mais baixos do que altos, confesso). Acho que toda menina com cabelo crespo passou pela mesma situação. Eu poderia contá-la aqui, detalhadamente, mas foram tantas coisas, que eu prometo separar um outro post só para isso. Mas o que eu posso dizer é que, quando menor, não gostava dele. O que eu queria mesmo era ter o cabelo liso e poder usá-lo solto. Minha brincadeira favorita era pegar uma fraldinha de pano, ou uma toalha, e colocar na cabeça. Eu prendia com xuxinha e tudo, só para fingir que eu tinha o cabelo grande, liso e solto. E aos 5 anos passei a usar química no meu cabelo, o famoso Toin do Netinho, sabe? As meninas de cabelo crespo que foram crianças nos anos 2000, assim como eu, não vão me deixar mentir (nesse momento estou rindo, mas de nervoso). 

Bom, o importante disso tudo é enfatizar o fato da química ter entrado no meu cabelo tão cedo. Eu sofri muito. Ele caiu, quebrou, alisou, mas nada de ficar bonito e cacheado como eu queria. E lá se vão 18 anos de relaxamento no cabelo. Tudo era muito mais difícil naquela época, porque a indústria de cosméticos nunca se importou com o nosso cabelo, raramente encontrávamos produtos específicos para o nosso tipo capilar. Mas então o tempo foi passando, as mulheres se empoderando cada vez mais, principalmente as negras. E então passamos a ouvir um discurso de aceitação e de assumir o cabelo. Uma revolução maravilhosa. E o mercado sentiu isso. E logo, como em um passe de mágica, percebeu o quão importante seria criar produtos para o nosso cabelo. 

Particularmente, eu achei toda essa mudança maravilhosa e inspiradora. Porém, isso trouxe um outro problema, ao meu ver, nada legal. Muitas mulheres voltaram ao cabelo natural. Porém muitas outra não, assim como eu. E os motivos para não usar o cabelo natural são muitos, mas nem sempre o de não aceitarem suas origens. Não. Não é bem assim. Como eu disse lá no início desse texto, eu faço relaxamento no meu cabelo há 18 anos. Parte desse tempo eu sofri, mas parte dele não. Hoje eu amo a forma como ele está, e mesmo relaxando, encontrei uma maneira de deixá-lo como eu gosto. Vejo muitas mulheres de cabelo relaxado e alisado que sofrem a repressão de não deixarem ele natural. Vocês já pararam para pensar que tudo é uma questão de gosto, de preferência, e que ela é a única pessoa que pode dizer se está feliz ou não com essa situação? Está tudo bem ser lisa ou relaxada

Não vamos sair de uma ditadura para entrar em outra. A liberdade de escolha não é tão importante? Então ela não se aplica a cabelos quimicamente tratados? Estou tirando a minha identidade por alisar o cabelo? Você, mulher, pode usá-lo da forma que quiser. Seja ele liso, relaxado, natural, black, com permanente, de peruca, aplique ou sem cabelo. O que for! Ele é seu. E só você sabe a melhor maneira de usar. Hoje eu relaxo o meu, mas não quer dizer que daqui um tempo eu não queira deixá-lo natural também. Ouço muitas pessoas me dizendo: “seu cabelo ficaria lindo natural, para de relaxar, assume”. Eu sei que ele ficaria lindo natural, assim como ele também fica do jeito que está hoje. Mas entendam e respeitem uma escolha. Assim como nos unimos em busca de liberdade, igualdade, representatividade e aceitação, vamos nos respeitar, principalmente. É tudo uma questão de escolha. 


E você, tem alguma história com o seu cabelo para contar? Comenta aqui em baixo. Adoraria saber!

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5 comentários

  1. Não vamos sair de uma ditadura para entrar em outra > Melhor frase!
    A liberdade é para todos.

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  2. Na verdade eu também já relaxei meu cabelo, a conhecida "Guanidina". Nossa... no dia eu amei, tirando cheiro horrível, mas ele cresceu e estava lindo, o problema é que não durou muito tempo. Hoje ainda sofro um pouco com a personalidade do meu cabelo. É fato que todo cabelo tem a sua personalidade! haha
    Vejo as fotos de antigamente ele grande e lindo, uns dias maravilhosos, outros só jogando água benta. ;) Enfim, a indústria das crespas e cacheadas melhoraram muito, mas o problema é que os cabelos são verdadeiros "cracudos", depois que se acostumam e viciam no produto, não tem mais o efeito inicial. No entanto, seguimos tentando e sonhando com os cabelos dos comerciais, leves, soltos e com um "day after" que só acontece com as blogueiras musas.

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    1. O cabelo com química tem os seus dias de luta e dias de glória. Quem optar por usar tem que saber como cuidar, e cuidar muito, pois não é fácil. Tudo é um processo, e ele não é fácil. Mas eu vejo que o mais importante, independente de como use,é estar satisfeita com ele acima de tudo e mudar por sua própria vontade.

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  3. Oi, Lysis! :D
    Seu post me lembrou muito um que fiz em fevereiro, depois de cortar o cabelo. Eu me senti muito "presa", já que sempre quis ter o cabelo mais curto e o calor estava me matando, mas muita gente ficava "AH, NÃO, SEU CABELO É LINDO, VOCÊ NÃO VAI FAZER ISSO" e etc. Acho que o papo deve ser muito mais sobre gostar de si, seja com o cabelo natural ou não. A liberdade está ligada a sermos livres de escolher, né não? Parabéns pelo post <3

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  4. Adorei a matéria. Mostrarei a minha filha

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